quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Vontades

Vontades, entre sorrisos. Tecer uma decisão. Escolher entre
dúvidas.
Um caminho, entre brumas.
A tempestade de neve espairece os pensamentos. Escolhe
momentos, estrugidos em fogo lento. Acrimónia no paladar.
Veludo no tacto. Míope ao olhar.
Sensaborão em termos acústicos. Mas sempre
presente quando dela precisamos.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Utopia

Sonho este planeta, talvez numa dimensão paralela, que a física quântica torna uma possível realidade.
De uma cor azul marítimo, visto ao longe, uma bola a pernoitar no espaço, entre matéria negra misteriosa.
Sonho um planeta muito parecido e ao mesmo tempo diferente.
É habitado por seres que de humanos como nós, de humano só tem o nome.
Porque tendo cabeça, tronco e membros, são constituídos por uma matéria a que se chama ética.
E logo essa ética lhes dá um valor inumano, que transcende a própria humanidade.
Gostava de viver nesse planeta que na falta de um nome traduzível em qualquer língua planetária, lhe poderíamos chamar utopia.
A tecnologia desenvolveu-se numa direcção perplexa.
Se não existem telemóveis nem televisão, existem livros, computadores, e energias renováveis.
Neste mundo paralelo não existem algumas palavras do nosso quotidiano, como guerra, fome, injustiça, egoísmo, capitalismo, socialismo, como se pode ver não existem muitos “ismos”, talvez altruísmo seja mesmo a única excepção.
Não há governos nem sequer governados, a anarquia não é apóstata, mas sim uma das poucas regras que existem, mas nem sequer escrita está.
A perfeição é uma busca pessoal, calma e desinteressada, mas a mediocridade, não sendo proscrita, não é acarinhada nem bajulada.
É um mundo colorido onde a felicidade não é embrutecida.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

A minha aldeia (Levada, Cibões)

Entre o espaço barroco desta civilização
insinua-se um pensamento que transporta
esta mente para longe deste escritório. Ouvem-se
sons espalhados pela natureza, estou longe, mesmo muito
longe. Vejo o cheiro húmido desta terra. Ouço
estes penedios milenares a cresceram, num tom abafado e
telúrico. Sinto as raízes fundas destas árvores que se agarram
persistentemente ao solo bravio e selvagem. Sinto escuto aprecio
o silêncio que envolve esta terra numa bolha temporal protectora onde
os mecanismos electrónicos, altar ego da nossa urbanidade, não
fazem a mínima falta.
Encontro a serenidade, mesmo quando abalada.
Encontro o estatuto de cidadão do mundo.
Nesta aldeia, descoberta aos cinquenta anos, encontro
Uma necessidade de estar.