Border Reiver, Mark Knopfler

Imaginação

Imagino-te à beira-mar,

As ondas beijam ao de leve os teus pés,

O vento faz os teus cabelos esvoaçarem,

Estreitam-te com ternura,

A areia fustiga o teu corpo com desejo,

O horizonte reflete-se nos teus olhos límpidos,

Enlaçam sentimentos,

O sal degusta os teus lábios

Com amor,

As pegadas no areal inventam uma rota,

Os teus passos imprimem um destino,

Caminham ao meu lado...

Ou será apenas uma quimera?

Conversão

Uma saída,

Uma entrada,

Uma passagem

Com sabor de coragem,

Um doce,

Uma joia,

Uma pérola,

Um espaço vazio,

Uma corrida entre dois lugares,

Um voo repentino e

Esclarecedor,

Um ritual,

Um tribunal

Imenso, onde se sopesa

A vida,

Um clamor saído da multidão,

Uma dúvida apregoada,

Uma certeza discernida no

Preciso momento em que acontece,

A essência que se descobre,

Um vago perfume cresce no ar,

Desvanece pesares antigos,

Adquirem tons precisos e sóbrios,

Encaixam perfeitamente

No escorregar do tempo,

Desenham-se no passado.

Um som,

Uma música espraia-se ao redor,

Profetiza feitiços vindouros,

Alude a itinerários auspiciosos,

Um ritmo,

Uma mensagem traduz a cifra

Críptica que resplandece

No âmago da noite,

Transmuta-a em luz,

Uma claridade,

Uma exegese,

Uma exortação,

Uma liberdade brota,

Extravasa,

Sacia a impaciência.

Um sentimento invade o corpo,

Respira, primeiro lentamente,

Depois, confiante,

Assume-se vibrante,

Tremeluz distante,

Acerca-se,

Rodeia o lugar,

Entranha-se,

Unifica,

Converte dois…

Num. 

As nuvens

As nuvens sobem pelo vale,

Alcandoram-se nos cumes das serranias,

Adornam os picos com fiapos de névoa,

Volvem-se ilusórios, ocultam-se,

Imprimem recordações,

Estilhaçam-se com o vento em

Miríades de gotículas que semeiam

A terra de esperança no germinar

De um tempo de solidariedade.

Desejos

A águia no seu planar circular,

Desencadeia recordações,

Memórias do passado e do

Futuro,

No presente a ausência,

Envolve o desejo

Da presença.

Epifania

Quando o teu olhar

Bebeu o meu,

Quando a tua palavra

Encontrou a minha,

Quando a tua mão

Acariciou a minha,

Quando o teu sabor,

Em mim 
Penetrou fundo,

Quando o teu corpo

Foi meu,

Conheci o sentido

Da palavra

Epifania.

Como?

Como conseguirei explicar-te?

Como poderei dizer-te?

Que todo o espaço do Universo

É demasiado pequeno

Para abarcar

Todo o meu afeto.

Um dia

Um dia…

Um dia em que crescemos,

Um dia assim…

Só pode ser um dia

Feliz.

Está escrito

Está escrito

Na subtileza do teu perfume,

Na magnificência dos sentimentos,

No sorriso que afogueia a tua face.

Está escrito

Na mágoa da tua ausência,

Na saudade relevada pela fotografia.

Está escrito

No chão que pisas,

Na elasticidade dos passos que te aproximam,

No enleio do abraço.

Está escrito,

Na rua, no mar,

No céu, no espaço,

Nos desígnios dos deuses,

Nas intenções dos homens.

Está escrito

Por toda a parte,

Saberemos ler?

Sobe no ar

Sobe no ar

Como um balão multicolorido,

Voga na esteira da brisa,

Estremece nas subtilezas das correntes de ar,

Anima-se com a pulcritude da paisagem,

Sobe ainda mais,

Procura alcançar altitudes nunca antes

Experimentadas,

Absorve todos os instantes,

Tem a leveza,

O sentir,

A fragilidade…

A forma de um

Coração…

A aparência do mar

Abarco a aparência do mar,

Mesmo de longe,

Vislumbro o nevoeiro que repousa

Suavemente na ondulação,

Confere-lhe tons ininteligíveis,

Avoluma os segredos que

Mergulham nos seus abismos,

Ocultam-se,

Adensam-se,

Permanecem calados,

E num momento cataclísmico,

Irrompem,

Espraiam-se ao sol.