terça-feira, 24 de março de 2015

O poeta (A Herberto Hélder)

Ninguém compreendeu a ocasião furtiva em que o teu olhar
Perscrutou e se inclinou num cumprimento,
Ao mesmo tempo suave e sôfrego, que se incendiou
E declinou, tudo num ápice de ligeiros segundos,
A terra tremeu, um novo ciclo iniciou-se,
Perturbador,
Como um fantasma passeando nas insalubres masmorras do castelo,
Há sempre um lugar, uma ideia para partilhar,
Uma palavra que se escreve e se apodera da vida,
Criando um novo ser
Que delira na sua singularidade,
Diário inscrito na circunvalação do tempo,
Veleiro alado
Atrapado na insigne desobediência
A toda a submissão,
E grita, explode,
Encanta, vibra, chora,
Pranteia a seu bel-prazer,
Inimigo dos ignaros,
Absoluto em liberdade,
Pelo menos no instante de grafar o
Pensamento.

segunda-feira, 23 de março de 2015

Em jeito de advinha

Em jeito de advinha,

Não é luz
Mas ilumina!
Possui o dom enigmático da beleza
Mas não é misteriosa!
Não é mel
Mas é terna!

É serena,
É inquieta,
É dialética…

É mulher!

domingo, 15 de março de 2015

Um sonho no seio de uma quimera

Um sonho no seio de uma quimera,
Real, e no instante seguinte
Irreal,
Desvanece-se numa aura de intangibilidade melancólica
Dilui-se numa atmosfera de encantar.
Uma dualidade perfeita,
Entrelaçada na dialética da existência,
Intuída nas palavras trocadas,
Percecionada de forma intermitente
Mas ininterrupta,
Tímida,
Mas sem dúvida
Persistente!

domingo, 8 de março de 2015

A luz

A luz projeta-se de um suspiro
Vago,
Intimida,
Insinua-se num ímpeto ilusionista,
Sortilégio silencioso,
Explodindo em vagas de luz meteórica!
Transformando a noite em dia, o dia em noite e,
Sobretudo,
O entardecer em amanhecer!

domingo, 1 de março de 2015

Singularidade

Semear serenidade e, do mesmo modo,
Inquietude,
Palavras que não se calam,
Estimulam,
Abraçam-se sem se tocar,
Tocam-se sem se movimentarem,
Abrem-se de forma natural,
Aquiescem e discordam,
Libertam a alma reconfortante,
Imensidão de abrigos enleados em afetos,
Na singularidade da beleza anónima
Que se acrescenta no charme da perfeição
Da imperfeição de nascer!