terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

O amor (Um poema para o dia de S. Valentim)

A sensualidade de um tempo quente e calmo
Perpassa na identidade intimista,
No conhecimento que se adquire,
Na beleza do ambiente,
Nos sentimentos que se amplificam,
Na serenidade conquistada que se completa,
No debate dirimido e sério,
Na gargalhada sumptuosa
Que esparge o leito,
Na tristeza intensa,
Na alegria insinuante,
Na trepidação constante,
No zénite solar,
No estiolar,
No refrigério de almejar,
Na inquietude temperada,
Na inconstância da vida,
Na perseverança da lealdade,
Na incógnita, pouco a pouco
Desvendada,
Na ínclita sensação de olhar,
Na impermeabilidade de crescer,
Na tolerância do saber,
No desejo de ler o
Outro,
Na benignidade de conversar,
Na felicidade de estar vivo e
Amar.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

Um dia rasgado na noite

De repente o tempo geme descontroladamente,
O vento muda,
Escapam-se moléculas arrastadas pelo ímpeto crescente,
Aquece o chã na chaleira de ferro fundido,
As brasas emulsionam o ar que se expande
Esborratado na álea das cerejeiras seduzidas pelo inverno,
Vestidas de cores ruborizadas,
O bramido explana-se num inteiro e dúctil ruído,

Aquieta-se, agiganta-se,
Bebe de um copo de cristal,
Assume a transparência incongruente da vida,
Deslocaliza-se num pensamento sofista,
Errante, vasculha um sentido, um propósito,
Uma tira de banda desenhada,
Um estirador abandonado pelo desenhador
Preocupado com a construção dos sentimentos,
E ri, do riso nasce o esplendor,
Alguma curiosidade,
E seguramente uma intensidade telúrica,

No mesmo instante, a
Singeleza de um gesto,
Estupefacto,
Com pompa e sumptuosidade veste-se de harmonia,
Mas, entretanto,
A tempestade sacode os alicerces que basculam numa
Intensidade crescente,
Tremem,
Mas permanecem,

Revê-se num filme qualquer abandonado em
Algum armazém digital,
Sobrevive,
Talvez escondido num deserto insolúvel,
Perdido numa floresta de árvores milenares,
Entretido numa fantasia inconclusiva,
Achado numa cama afetiva,
Libertado num sonho surrealista,
E entusiasmado numa terna tentação.

Acelera,
Brinca no areal da praia,
Delicia-se na água que salga as línguas impacientes,
Nadam num espaço rítmico,

A dor
Cobre a existência com um manto incolor,
Rarefaz-se lentamente numa chuva miudinha que
Acinzenta e embrutece o momento que
Intumesce num frio morno que
Adormece,

A palidez recobre a face,
Enruga-se de preocupação,
O mundo entra em ebulição,
Fervilha incontido,
Na inconstância do inconclusivo,

O copo cai com estrondo,
Parte-se em milhares de cacos
Espalhados pelo chão,
Miríades de vidrinhos multifacetados que
Refletem a luz e
Opalescem,
Vibrantes de emoção,

Dispersam,
Fica a mesa vazia,
Emerge a Natureza morta da consciência,
Com a sua perene beleza,

Na janela, a noite imponente
Vence
O Homem impotente,
Apenas um espectador,
Um títere desgovernado num universo inclemente,
Um grão de poeira na totalidade absurda do Cosmos,
Uma marionete do destino
Entrançada nos eventos que fluem livremente à sua volta,
Um leve sopro no vendaval,

E, no entanto,
Levantar-se-á um novo amanhecer,
O sol, feérico, erguer-se-á no
Azimute habitual,
Mais um dia germinará
Rasgado na noite

Assim se expande a vida,
Na perpétua
Oscilação entre o bem e o mal,
O desconhecido e o saber,
A vontade e a inércia,
A leveza e a gravidade que nos arrasta,
Afasta,
Aproxima,
E surpreende no ato de nascer.