terça-feira, 21 de março de 2017

No dia mundial da poesia (em jeito de manifesto pessoal e intransmissível)

No dia mundial da poesia,
Vinte e um de maio de dois mil e dezassete,
Início da Primavera,
É preciso dizer ao mundo que

Trezentos e sessenta e cinco dias são precisos,

Porque:

O mundo não compreende a liberdade dos sentimentos,
Esmaga-se em dor,
Mortes e guerra,
Em incompreensões,
Em darwinismos sociais insensíveis,
Em refugiados obliterados,

Perde-se num egoísmo perene que
Subsiste nos recônditos da alma,
Num neoliberalismo caduco
Mas efetivo,
Que tudo destrói,
Tudo estrangula ao passar,
Deixa um deserto,
Onde nada medra,

Um mundo onde a ignorância mostra apetite para ser lei,
Quer-se instalar,
Vive na planificação do nosso planeta,
No desprezo pela vacinação,
Nas teorias da conspiração,
Avoluma-se na pseudociência,
Regride para lá do Iluminismo,
Opulenta-se na escuridão do conhecimento medieval,
Incrusta-se em crenças religiosas vácuas,
Alimenta-se com todos os muros que constrói,

Anima-se na animosidade natural do ser humano,
Inculca-se no pensamento,
Revive na tortura e no
Racismo,
Deleita-se na intolerância religiosa,
Assanha-se na violência.

Por tudo isto,
Por muito mais que seguramente esqueci,
É preciso denunciar,
Em prosa ou em poesia,

Queremos,
E, porventura, teremos direito,
A uma Terra mais espiritual,
Onde a compreensão e a
Liberdade
Sejam mais do que palavras,
Para que no globo onde vivemos
Seja
Infinitamente mais importante viver
Do que matar,

Onde a solidariedade seja substantiva,
Onde unir
Seja
Incomensuravelmente mais relevante
Que desunir,

Enfim,
Uma Humanidade que compreenda a
Poesia do Cosmo!

sábado, 11 de março de 2017

Na orla da noite

Na orla da noite, na praia deserta,
Unem-se,
Na solicitude da vontade,
No estipêndio da paixão, a intensidade subleva-se,
Um regato rumoreja tenuemente frases soltas
Libertadas no luar despretensioso,
Agora que o tempo se fez tempo e
A vida se transformou no
Verbo,
É tempo de encontrar,
Pertencer e
Acontecer.

domingo, 5 de março de 2017

A propósito de liberdade (talvez porque abril se aproxima)

Ausenta-se o sono,
O sonho acorda,
Os pensamentos revogam-se em interrogações,

Estabelece-se uma hipótese que sobrevoa lentamente em espiral,
Deslinda-se um caminho,
Outro esconde-se,
Inconstante, a névoa etiliza a mente,

Talvez os áugures entendam a complexidade humana,
Porventura só os deuses conhecerão a verdade,

Mas eles escondem-se em mitologias,
Mais ou menos elaboradas,
Nada dizem,
Nada acrescentam,
Serpenteiam em paraísos,
Ora terrestres ora etéreos
E não se interessam,

A realidade abre-se num sentido caleidoscópio,
Interiorizam-se mais argumentos,
Estruturam-se debates,
Dividem-se culpas,
Um poço de insanidade inunda as sensações,

Regurgitam-se velhas noções,
Escutam-se vetustas canções,
Aguarda-se que a semiótica desvende os mistérios
E alcance a resposta correta,
Embora no auge desta laboriosa demanda
Não existam refutações
Nem soluções,

Talvez só uma réplica,
Em jeito de terramoto intelectual,
Um grito bamboleante que espairece na rua
Embaraçada pelo trânsito cognoscente,

Mais um pensamento estiolado,
Esvanecido numa tela remota,
Distante de nós próprios,
Carente de sentido,
Apesar de tudo, solicito,

Entretido,
Ditirâmbico,
Intencional,
Se de intenções o mundo está repleto,

Agnóstico,
Porque o tempo atual desconfia da gnose,
Procura o efémero e petulante,

Insinua-se,
De forma ténue…

E,
Finalmente,
Como que vinda de uma outra dimensão,
Com toda a sorte possível,
O sono
Liberta,
O sonho
Alforria,
A vida,
Se vivida,
Desacorrenta!