Uma duna no deserto moveu-se
Cavou mais uma ruga
Esculpida pelo vento que sopra do sul,
Um grão de areia flutuou bruxuleante antes
De se imobilizar.
Tu que pensaste conquistar o centro do mundo
Contempla com atenção o horizonte,
Olha-me nos olhos profundamente,
Cala-me com o teu gesto brusco,
Andei por terras desconhecidas,
Vi homens perturbados,
Senti os seus gritos a perfurarem-me a pele,
Escutei a angústia do lugar.
Tu que pensavas conhecer o mundo,
Riste, e o teu riso desvendou
Segredos que estavam entrincheirados
Naquilo que és,
Na fria colina, mesmo onde se une com o céu,
Gritaste de dor mas um mistério
Ergueu uma cortina que te escondeu,
As árvores disso são espectadoras
Serenas e confiantes.
Eu sei que a razão parece aqui deslocada
E os anjos, ainda que imaginários, jogam aqui um papel,
Desconhecido é certo, mas ainda assim relevante
Na mística do que se pensa e escreve.
Assumi que o barco se afundou
Na tempestade que brotou da tua boca
Perdido na escuridão da noite,
As velas rasgadas, o leme partido,
O timoneiro ausente.
A televisão acesa recorda-me o lugar onde estou
Que por acaso é o sítio que interessa
Porque ontem e amanhã são sempre incógnitas
O que realmente importa é o presente.
E revisitando o passado,
Num determinado momento da vida
Perdeste-te no emaranhado de emoções,
A lua persiste no seu significado romântico,
As pessoas porfiam nos seus destinos,
Seguem os seus caminhos,
Os escritores perseveram na sua escrita,
O mundo continua a girar,
A história permanece no seu lugar.
Mas na realidade tudo fica descolorido,
De um cinzento pesado e triste.
Uma varanda sobre a cidade
Abre perspectivas ignotas,
O movimento que se distende
Nos teus lábios desvenda o enigma de um
Beijo apaixonado que envolve dois seres
Num mundo de afecto.
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