terça-feira, 28 de outubro de 2008

Alegoria desta portuguesa vida que é a nossa

Entre passos que se arrastam
pelo caminho. Encontro uma asa ferida.
Percorro o espaço delineado, linha encurvada,
metáfora da vida desgastada. Sinto um frio gelado, entre
os dedos anquilosados. Ouço um som, que parece
uma vaga ao longe distante. Rastejo ondulante
sobre o passeio que se afasta na medida que o palmilho.
Sento-me neste banco de madeira e pedra. Planeio
sem pensar, sempre sentado, como se Apolo existisse. Um
deus perdido no nadir da memória. Um sucedâneo
de qualquer proteína, talvez enzima, perdida no pensamento.
Deleito-me com música, de Tom Waits de preferência, outra
qualquer será sempre uma panaceia mezinha mas
sempre com efeitos terapêuticos. Agasto-me comigo com os
outros mais talvez com os novos senhores do planeta, ocos como
ele, irresponsáveis como calhaus, balofos como gordos. Gordura
parecida com banha malcheirosa lembrando-me quão infecciosos
são os seres que mandam, ainda acrescento pernicioso. Já duvidoso
duvido porque eles não têm dúvidas, são iluminados com a
inocência da imbecilidade. Paciência para tamanha
desonestidade intelectual não é possível, nem sequer bem-vinda.
Queria, tal como o mestre Almada, gritar, se a metáfora me é permitida, “com
este poder português
eu quero ser de qualquer outro país” pode mesmo ser o Burkina Faso
outro de outro continente, pode até ser um principado, contentar-me-ia
com um simples ducado. Posso procurar num aglomerado de galáxias, na
Nuvem de Magalhães, por exemplo, será talvez
mais seguro e distante dos energúmenos obscenos que mandam. É
sempre difícil fugir da mediocridade
por vezes a nossa mas tenho esperança que mais vezes a dos outros
sobretudo do poder que escarafuncha verte e nos esmaga. É ubíquo na sua
ubiquidade. Transcende-se. E pasme-se democrático como se poder
e povo se conjugassem, é um verbo que só rima com riqueza, que verbo
só pode ser com a liberdade que permite a poesia. Afinal ainda há
liberdade, bem pequena, mas do tamanho do planeta. É alguma
esperança uma réstia ainda que nano métrica. Microscópica que
seja agarro-me a ela com todo o equipamento do alpinista. Com toda
a gana de quem atravessa o abismo e quer alcançar a margem.

domingo, 5 de outubro de 2008

Universo, uma brevissíma reflexão

Por vezes acordo a pensar na ilusão. Espanto-me com os que encontram propósitos e destinos na vida. Procurar entre deuses e outras filosofias um percurso na história, uma razão, direi eu, um conforto.
Espanto-me, ainda mais, quando algumas das pessoas que assim pensam têm cultura e instrução. Será possível um ser inteligente, que se detenha a pensar uns breves minutos, possa concluir pela existência de Deus?

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Estou assustado com o futuro da Humanidade

Estou assustado com o futuro da Humanidade.
Olho para o mundo e parece-me uma peça de teatro surrealista, sem nexo, fruto de um desvario artístico de um deus com vocação sádica.
Vejo uns senhores que desbaratam milhares de milhões, nem sei se dólares ou euros, até é irrelevante, que continuam a ganhar milhões. Os contribuintes pagam todo este desvario sem se levantarem e exigirem que se tomem medidas contra estas “actividades” de “colarinho branco”.
Assisto estarrecido, à indiferença dos cidadãos, perante o percurso deste mundo para o caos.
A crise era visível, bastava olhar para os indicadores de 1929 e para os actuais. Na minha opinião só um analfabeto seria incapaz de tirar as devidas elações, no entanto o mundo continuou, inalterável, o seu caminho para o abismo. E depois de chegados ao precipício, o cidadão contínua alheio a tudo? Será isto normal?
Parece-me que a multidão foi embrutecida por milhares de horas de entretimento barato e por políticos de carreira, incompetentes, por uma comunicação social que está esquecida do seu papel social e cultural.
Entristece-me olhar para dez mil anos de civilização e ver que os progressos culturais, políticos foram muito limitados. Fico verdadeiramente assustado quando se comparam os progressos técnicos e tecnológicos com os progressos culturais e civilizacionais.
No século XXI, com toda a variedade de computadores, auto-estradas da informação e outros quejandos do supra-sumo da técnica, a selvajaria e a boçalidade estão ao nível dos nossos antepassados mais remotos.
É razão mais do que suficiente para eu estar assustado com o futuro do Homem.
Outro assunto que é revelador do estado estupidificante de uma parte muito significativa da Humanidade é a questão ambiental. Acumulam-se provas que caminhamos a passos largos (talvez uma melhor metáfora fosse “a trotar”) para um desastre de proporções épicas que irá provocar um recuo da civilização tal como a conhecemos. Poucos parecem realmente preocupados, não seria, mesmo que não existissem provas sólidas, necessário tomar medidas urgentíssimas para tentar debelar o problema?
Tal como em relação à crise económica, a espécie humana aguarda, impávida, com uma inconsciência louvada por aqueles que enriquecem com toda esta situação, que as mudanças climáticas sejam irreversíveis, para então começar uma azáfama de medidas que muito provavelmente serão irrelevantes.
Gostaria de perguntar aos senhores do mundo (económicos e políticos), se o futuro não é importante, será que não têm filhos e netos? Será que o dinheiro cega até à bestialidade?
Estou assustado com o futuro da Humanidade…