sexta-feira, 24 de setembro de 2010

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Equidistante

Espelhada na vítrea superfície
Das frias águas,
A imagem revolta e trémula,
Reflecte o passado transbordante e
Tumultuoso.
Quando te afastas, o avatar
Dissolve-se e
Desprende-se um ar gélido
Que tempera a canícula estival.

Quanto mais perto
Mais longe pareces,
Um espectro na noite longínqua,
Cintila num ritmo lento,
E escapa num qualquer cometa
Que perpassa pela atmosfera,
A beleza do espectáculo
Anima as trevas durante dias,
No fim restam as cinzas
Gélidas e
Dolorosas.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

A carta

A carta rasgada,
Amarrotada,
Jaz a teus pés,
Inerte,
Estremece ao compasso da brisa,
Incute-lhe uma centelha de vida,
Para logo se extinguir,
Como as brasas moribundas de um fogo
Outrora abrasador.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Ao teu lado

Ao teu lado
A vida tem sabores,
Dissabores também,
É uma constante interrogação.
O mundo gira,
Nunca pára,
Há risos, lágrimas,
Agitação, calma,
Um caudal de probabilidades,
Uma plêiade de possibilidades,
Um cintilar de constelações,
Nem sempre fogo, nem sempre gelo.
O sonho aufere autenticidade,
A realidade cresce segura e genuína,
Aufere bondade.

Sem sofismas,
Nem falsas elegias,
Ao pé de ti
Há futuro!

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Magia

Encontro uma alma vadia
Nas gotas de chuva que percorrem
O vidro da janela,
Traçando rotas,
Percorrendo erráticos caminhos.

Escondo-me num ritual de passagem,
Diria mesmo de ultrapassagem
De fantasmas que,
Por vezes,
Assolam as paisagens.

Escrevo sobre um cerimonial furtivo,
Oculto em locais profundos,
Velado por inúmeros pensamentos,
Camuflado em gestos quotidianos.

Disfarço-me de realidade
Nesta orbe ilusória,
Pareço mais real e preciso,
Que estrela de cinema
Impresso em papel de tablóide.

Ouço na rádio uma música
Plena de recordações esquecidas,
Activam-se hormonas bolorentas,
Penetra um cheiro a bafio, e
Depressa escapo dessa prisão.

Vislumbro pedaços da verdade,
Ainda assim inconsistente e
Desinteressante, mergulhada
Num limbo de nonsense,
Combalida e aturdida.

Recordo os teus passos felinos,
Percorrem estonteantes a sala,
Envolvem os sentidos numa letargia
Que afecta o discernimento,
Uma alegoria que fatalmente termina
Num acordar libertador.

O leve calor da aurora
Acentua as tonalidades que
De vermelho e amarelo ruborizam
O céu nascente.

As montanhas graníticas
Impregnam a atmosfera de sensações
Mágicas e
Inoculam uma sensação de intemporalidade
E segurança.

Da terra escapa a humidade,
Cria remoinhos de neblina que sobem no ar,
Alforriam fiapos de condensação,
Realçam a luz do Sol,

Abre-se uma passagem encantada,
Entranha-se um espaço de magia,
Sortilégio de uma vida!

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Fractal





Na beleza misteriosa e não euclidiana
De um fractal,
Esconde-se a infinita dimensão
Da nossa ignorância.
Do mesmo modo que transparece
A nossa íntima ânsia de conhecimento.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

A fotografia

A fotografia
Cintila no monitor,
Ficas com um ar estranho,
De ode inacabada,
Pareces irreal,
Saída de um sonho perturbador,
Onde a realidade se confunde com
A quimera.

E num clique asséptico,
Rápido e inodoro,
Extingue-se numa
Reciclagem factual
Prelúdio de um vazio primevo,
Onde se esgota a existência,
E começa um outro Universo.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

domingo, 5 de setembro de 2010

A voz estremece

A voz estremece,
Lentamente,
Na exacta proporção em que
O meu olhar persegue o teu corpo,
Os meus lábios percorrem
O sabor a sal da tua tez marmórea,
A verdade dissolve-se na tua serenidade,
O amor derrete-se na boca,
Os corpos fundem-se e
Libertam-se em nuvens de vapor
Que acalmam.
Para logo se envolverem
Em tumultos desordenados
Que apenas mitigam a urgência
De novamente te fruir.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Aparição

Apareces
Proveniente da memória,
Na curva da estrada,
Provocas o acidente
E desapareces!

Reapareces
Envolta em nevoeiro,
Como um desdito e avoengo rei!
Mistério assimétrico e
Ao mesmo tempo ecuménico,

Mas…
Desvaneces no fluir dos dias,
Fica a ilusão da reminiscência!

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Tempo

Há tempo,
A tempo de te encontrar
A escrever num caderno de capas plásticas,
Numa letra redonda e estilizada,
As memórias de um tempo
De emoções,
Em que as flores proliferavam
Mesmo em ambientes desérticos,
Tempo de alegria e tristeza,
Tempo de suposições,
De devoção,
Ainda que ímpia,
Um resquício da tua boca,
Um sacrilégio
Perdido na impiedade do pensamento.

E apesar das emoções vividas,
Nas recordações que permanecem,
Perdura um tempo banal
Que fenece embebido em
Nostalgia.