segunda-feira, 8 de agosto de 2022

Mas...

Se o amor tivesse asas

Seria uma águia

(conheço quem argumentasse que seria um dragão alado,

Mas paixões clubísticas à parte, mantenho a águia,

Talvez se vivesse num continente mais a sul

Enveredasse pelo condor).

 

Se o amor

Tivesse um motor

Seria um Ferrari,

 

Se o amor

Tivesse um lugar

Chamar-se-ia Cativa,

 

Se o amor fosse constituído por água,

Seria o Oceano Pacífico,

 

Se o amor fosse espaço 

Seria o Universo,

 

Se o amor fosse gramática

Não seria o Acordo Ortográfico,

 

Se o amor fosse volúvel

Teria incontáveis amantes,

 

Se o amor fosse uma fruta

Não seria maracujá (passion fruit),

Mas a maça do

Pecado original,

 

Mas,

Se de um modo verídico,

Estivéssemos para lá da ficção,

No mundo real,

O nome do amor

Seria

Ana.

terça-feira, 14 de junho de 2022

Poema da descrença, com algum humor, mas que sei eu, e uma hipótese para acreditarmos

 Os dias que decorrem

Para as noites

Enfeitadas de notícias envolvidas

Em papel semântico,

Trazem-nos novas da guerra,

De uma forma quase bíblica,

Uma espécie de palavras cruzadas

Diluídas num paleo de incenso.

 

Estamos num mundo esquizofrénico,

Devoluto,

Mas impregnado de religiões,

Umas mais esotéricas, outras

Menos,

 

Onde a racionalidade é um embuste

Triste,

Talvez mesmo disfuncional,

 

Alguma razão para acreditar?

Alguma ideologia capaz de

Ultrapassar a memória predatória do

Homem?

Algum sinal cósmico de bonança?

Alguma hipótese realista de um

Nirvana?

Ainda que sem Cobain?

Alguma religião eficaz?

Já que pertinazes

Serão elas.

 

Algum Homem?

Alguma Mulher?

 

Algum cenário plausível?

Alguma razão para indagar?

Alguma réstia de liberdade para

Viver?

Algum queixume para indignar?

 

Alguma fotografia de criança jazendo numa

Remota praia,

Estendida na nossa consciência?

 

(A utilização do verbo travar para o decorrer de

Uma guerra merecia uma explicação freudiana)

 

Mais humanos para matar?

Mais ozono para degradar?

Mais armas para vender?

 

Mais Twitters para comprar?

Mais mentes para dominar?

Mais mentiras para espalhar?

Algum novo mundo para

Conquistar?

 

Algum ego para adorar?

Algum para ignorar?

 

Alguma inquisição para reativar?

Alguém realmente vivo nesta

Realidade?

Alguma muralha para escalar?

Algum livre-arbítrio restante?

 

Alguma interrogação real?

Alguma exclamação autêntica?

Alguma evolução na História da

Humanidade?

Algum entendimento?

Algum vislumbre da irrealidade na vida?

 

Algum esperma no caminho,

Perdido em algum ato de contrição?

 

Algum final feliz?

Algum final sequer?

Será que temos hipótese de um início?

 

Será que existe um espaço que separa o começo do

Fim?

 

Serão questões a mais?

E, afinal, a vida é só para viver,

Da melhor forma que conseguirmos,

Da melhor maneira que a entendermos?

 

Apenas e tão só isto?

Que se verdade for, terá a dimensão do

Universo,

Resplandecerá como uma Supernova,

Será, afinal, a nossa,

Liberdade!

segunda-feira, 25 de abril de 2022

Abril


Abril

Primaveril

 

Lembra que é tempo

De democracia

 

Que esta

Abarque uma plenitude,

Além de política,

Seja económica

E cultural,

 

Então abril

Será encontrado

Nos doze meses do ano!


sexta-feira, 1 de abril de 2022

A História nada ensina

 Este tempo de guerra

Que se quebra

Na consciência intolerante de nomes

Que sobressaem como Mariupol,

Mas não esquecem Alepo ou

Grozni,

Ou

Multitudes que se inquietam em muitas

Latitudes,

 

Afinal, apenas mais uma vez

Na Roda da História,

Apenas mais uma vez,

Só que esta é a nossa vez,

 

E reflete-se nos plasmas,

Afeta-nos no quotidiano que parecia adormecido,

Inflaciona-nos a vida,

Descobre-nos uma nova intolerância,

Num Mundo que quase sempre é intolerante,

 

Apela a um guerreiro que nos desconhecia,

Mas permanecia por baixo da pele,

Escondido por um vestuário coquete,

 

Afinal esta guerra,

É a nossa guerra europeia,

Como foi a dos Cem Anos,

A dos Trinta, a dos Sete,

A Primeira e Segunda Mundial,

 

Afinal porque nos espantamos que

Esta guerra, que é a nossa guerra, nos

Atinja uma vez mais?

 

Talvez, e mesmo só talvez,

A História não consiga ensinar nada

A quem nada queira aprender!