sábado, 15 de dezembro de 2018

Realidade

Nas reviravoltas que o mundo protagoniza,
Somos informados,
Quantas vezes,
Exaustiva e sofridamente,
Dos grandes acontecimentos,
Na sua grande maioria,
Tragédias
Com foro de globalidade,

Mas
Esquecem-se os pequenos momentos
De um dia comum,
Que de facto são o guião da
Vida,

Selecionam as sementes da nossa
Consciência,
Omnisciência,
Libertam as endorfinas que presenteiam a
Inexatidão,
Sempre exata da
Realidade,

Somos nós,
A identidade construída,
No sorriso,
Na dúvida,
Na tristeza,
Na alegria,
Na persistência,
No amor,

Na perfeita imperfeição de um
Sentimento.

terça-feira, 6 de novembro de 2018

Um país, um planeta, uma opinião, quiçá um desabafo


Num país onde se construirá, ou
Não,
Um museu das descobertas,

Uma nação onde o imposto sobre touradas é polémico,
Como se a tauromaquia tivesse mandato de espetáculo,
Como se uma carnificina medieval se pudesse equiparar a um livro,
Exatamente,
Porque será que não se discute o IVA dos livros?

Nesta região ocidental,
Vivem homens de sucesso,
Nesta península finis terra,
Vivem no luxo,
Vestem colarinhos brancos,
De alfaiates importados,
Degustam haute cuisine em antigos palácios
Transformados em locandas gourmet,

Na televisão são opinion makers,
Barafustam,
São a epítome da leviandade,
São banqueiros,
Levantam voo nos seus iates dourados,

São os génios do neoliberalismo,
Endividam países como quem respira naturalmente,
São políticos,
Inclusive são o homem comum,
Altercam, arrebatadamente, argumentos no Facebook,
Ou outra qualquer rede social,

Vestem roupagem de profeta,
Esquiçam os seus caminhos,
Sonham com a vinda de um, qualquer, messias,
Na verdade um qualquer autocrata,

Um dia, talvez, quem sabe,
Uma borboleta voará, e
Eles pasmarão,
Ficarão, para sempre,
Plasmados
No passar do tempo,
De um qualquer alfarrábio de
História,

A arqueologia
Apenas encontrará as cinzas
Do cataclismo!

terça-feira, 16 de outubro de 2018

Alter Ego


Na superfície d’água abriu-se um escuro abismo. E
mergulhou no remoinho da vida. Espaireceu e
fugiu. Fugiu uma vez mais. Ficou calado. E
pensou.
De tanto pensar, uma verdade perpassou, mas não
ficou, abalou.
De tanto andar ficou cansada. Descansou. De
descansar rapidamente se fartou. Saltou, calcorreou.
Desenhou-se no cartaz publicitário. Voou pelo éter
radiofónico.
Apareceu no ecrã de televisão. De tanto aparecer, reapareceu.
Cintilou no monitor do portátil. De tanto ser reconhecida,
envaideceu.
De tanta vaidade pariu. De parir em parir, tornou-se
uma progressão geométrica.
Assustou-se, mas determinada continuou.
De tanto se multiplicar, tornou-se numa praga.
Da praga nasceu um deus.
Que se ergueu na sua pose sáfara e gritou estridulante:
 Aurea Mediocritas!!!
…Estava criado o novo alter ego da
Humanidade.

quarta-feira, 10 de outubro de 2018

Açoteia Cativa


Leve brisa,
Espontânea e decidida,
Esbate-se na Natureza
Serena,

A lua
Alivia a negritude da
Paisagem
Roçando de prateado as
Ondulantes folhas das árvores,
Laranjeiras, abacateiros, alfarrobeiras, figueiras…

O mar, distante,
Na realidade perto,
Reverbera a atmosfera numa
Onomatopeia sussurrada que
Cativa,

O homem,
Sentado na açoteia,
Atravessa a noite,
Imerge no pulsar dos pensamentos,

Flui pelo cosmos,
Cintilante no céu noturno,
Apesar de sobressaltado com a
Condensação que se propaga pelo copo gelado,

Aquece-se no regaço da
Mulher,
Afagam-se,
Diluem-se…

quarta-feira, 5 de setembro de 2018

Férias


Quando o tempo,
Omnisciente,
Esventra o pensamento,
É o momento de pensar que as
Férias
São meros artefactos do
Passado,
No entanto regurgitam emoções que
Se propagam pelo
Escorregar dos dias,
Alentam a vida,
Até ao próximo
Renascimento!

segunda-feira, 6 de agosto de 2018

Quando


Quando,
No mundo em que habito,
Ainda
Não tinhas nascido,
Havia,
Uma palavra aquecida, mas
Esquecida no meio da sala,

Não existia,
Não vivia,

Sonhava,
Mas a bruma
Enevoava as imagens,
Esborratavam-se em papel mata-borrão,

Irrompeste,
Materializaste-te do nada,
E o Sul, meteórico, caminhou para o
Norte, ao
Encontro de uma
Vida!

sábado, 7 de julho de 2018

Declaração de amor


Amo-te,

Amo-te,
Não pela perfeição do teu ser,
O quer que isso seja,
Mas pelas tuas imperfeições,
Que na realidade,
Se transformam na tua
Perfeita essência,

Amo-te
Porque és um íman,
Que atrai a profundidade do melhor
De nós,

Amo-te,
De onde vens,
Para onde vais,
Mas, no essencial,
Pelo que és!

sábado, 9 de junho de 2018

Vem


Bem devagar, 
Vem, 
Traz o teu seio para o meu 
Meio, 

Incinera o azul do céu 
Numa estrela fulgurante, 
No limite do observável, 

Não te apresses, 
Mas não te atrases, 
Combina a certeza  
Com a leveza 
Do toque, 

Observa a gota de água 
Refratando a Natureza, 
A beleza captada num 
Diafragma diáfano,  
Um simples ponto, 
Uma imensidade libertada, 

Desponta no sorriso fascinante, 
Na gargalhada tonítrua, 
Graciosa, 
Apenas tua, 
Límpida, 
Brilhante, 

Assumiste a delicadeza com 
Firmeza, 
Como um tempo de vida, 

Uma voz sussurra, 
Ficamos, assim como que  
Ligados,
Libertados para
Nascer,

Celebro-te como és, 
E, sobretudo, porque 

Vieste, 
Chegaste 
No tempo exato 
E certo! 

segunda-feira, 21 de maio de 2018

Existe


Existiu, alguma vez, em
Algum tempo indeterminado,
Uma voz que nasceu!

Cresceu,
Construiu,
Construiu-se,
Dedicou-se,

Caminhou,
Idealizou,
Em especial,
Poetizou,

E, hoje, existe
No mundo autêntico,
Em que os seres vivem e
Devaneiam,

Consubstancia o verbo existir
No apetecer,
Emancipa o direito
De estar,

Liberta o desejo de
Amar!

terça-feira, 17 de abril de 2018

Uma rota


O homem,
Na esquina da rua,
Canta uma melodia desafinada,
Aclara um rumo para o sol,
Brilha,
Endereça uma rota que estremece no tempo,
Foge do Inverno,
A criança brinca,
A Primavera atavia-se,
A serenidade exulta!

domingo, 8 de abril de 2018

Auras


A certeza invade o corpo,
Sobe deliberadamente,
Ocupa um espaço infinito,
Desmente
Os áugures tristonhos que avassalam
Com os seus presságios
Lúgubres,
Desenrola-se lentamente,
Abre-se
Numa melancolia indolente,

Planta-se numa chuva miudinha que estarrece no
Chão ocre,
Onde está a bússola que aponta?
A estrela que orienta?
O sol que ilumina?

Houve um sinal feliz,
Um intermezzo significante,
Um rigor assertivo esbate-se na certeza do saber,
Livre, tão liberto quanto permite a prisão da vida,
O rumor alteia o som da voz tonitruante que resvala nas paredes vazias,
Ocas, inflexíveis na sua ociosidade,

Inamovíveis,
No entanto movem-se perante o desejo,
Erguem-se mediante a vontade,
Separam ou unem conforme os anseios,

Uma pedra
Repleta de veios que a atravessam,
Miríade de minerais,
Quartzos, micas feldspatos,
Reluzem ao sol,

Terra,
Terra vermelha,
De uma paisagem que se estende para
O céu infindo,
Toca-o levemente no entardecer ígneo,

Misturam-se,
Adoçam-se,
Questionam-se,
Insurgem-se,

Mero acaso?
Destinos?
Percursos convergentes?

Assumem-se
Num Olimpo terrestre,
Sem deuses,
Mas com vida,

Sem unanimidade,
Mas com verdade,

Com liberdade,

Atravessam um tempo,
Lugares,
Planam num Universo,
Por vezes brutal,
Mas magnífico,
Pleno de alma, de
Sabores,
De cores,

Insinuam-se,
Interligam-se,

Bebem de uma aura
Mútua.

domingo, 11 de março de 2018

Desejo vadio


Um certo céu
Expande-se na natureza de
Estar,
De bem-estar,
De andar, mas
Também de ficar nos sítios plenos e
Apetecidos,

Nasce um desejo vadio e tranquilo de
Conhecer,
De ultrapassar o nosso Cabo Desconhecido,
Navegar,
Esperar, levemente distraído,
Relevar o GPS,
Viajar na plenitude da consciência,
Desligar
E interligar,

E nestes novos azimutes,
Surge um enorme
Desejo

De segurar,
Entre as mãos,
As odes
Que glorificam o
Prazer de
Amar!

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

O passar, devagar, do tempo (uma reflexão a propósito do livre-arbítrio)


Uma parede de tijolos aprisiona os sentidos
Embotados pelo passar, devagar,
Do tempo,

Por vezes,
Omnisciente,
Muitas mais,
Ignorante,

Sempre, pelo menos assim o deveria ser,
Uma interrogação para o futuro,
A procura de desvendar o mistério da vida,
A questão que se coloca incerta,

Mas vai adquirindo determinação,
Inculcando segurança,
Para logo desabar,
Em serena câmara lenta, destruidora,
Espalha-se, rodeia o planeta,
Eleva-se um pó violento que tudo
Obscurece,
Entope a visão, incapaz de perfurar o destino,

Esconde o medo,
Cerra os caminhos,
Veda as veredas com circunvoluções
De um qualquer labirinto psíquico em que
A mente se transmuta num espetáculo de
Cinema mudo,

As mãos impedem a cabeça de resvalar,
Incontroladamente,
Os dedos sublevam os cabelos
De forma errática,

O pensamento deduz-se nos impulsos elétricos
Que percorrem os neurónios
Numa solicitude semântica,
A sinonímia converte-se em
Antonímia,

O cientista explora os sentidos da vida,
Busca um sentido para o caos,
Perpetra uma explicação para o fenómeno
Da criação,
Insere mais uns dados no conhecimento informatizado,

Reaparece num monitor de alta definição,
Equaciona mais um gráfico multicolorido,
Explana mais uma teoria elucidativa,
Quem sabe, talvez até evolutiva,
Entrevê-se a génese do Big Bang,
Um nome cinematográfico para o início do tempo,

Olvidamos o passar dos dias,
Perdemos o ensejo de uma tarde aprazível,
Entretidos, apenas, pela ambição de
Nada fazer,
Simplesmente apreciar o sonho,
Crescer na utopia da felicidade,
E, apesar de tudo,
Perseguir a demanda de estar vivo,

O livre-arbítrio nasce para logo
Esmorecer
Na intensidade quântica do Universo,

Somos a sorte ou o azar,
O encontro ou o desencontro,
A genética que nos concebe,
E fica muito
Pouco para a liberdade de ser!

Existe a dor de partir,
De ficar,
A dor de esquecer ou
Recordar,

Há dor no respirar,
Na felicidade de amar,
No odiar,
Na beleza da paisagem
Na fotografia amarelecida,
No pixel desbotado,

Há dor na doença,
Na alegria,
No logro do livre arbítrio,
Na hora que se segue,
No estupor do momento da revelação,
Na (in)certeza de Heisenberg,
Na convicção destruída,
No delir do provir,
Na afetação do discurso,

E,
Ao contrário de que os
Hedonistas apregoam,
Não há vida sem dor,

Simplesmente
Acontece dor em
Viver,
Como existe felicidade,
Liberdade,
Verdade,
Alegria,

São a duplicidade,
A dicotomia
De residir neste planeta,

Porque a entropia
Domina completamente o
Universo,
Multiverso que seja!

segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

Clarificar

Clarificar a vida,
Escrever o que está escrito,
Modificar o que preciso for,
Demorar no pensamento,
Solicitar a solidão,

Entregar-se na deriva dos ventos,
Soletrar as palavras malditas,
Pactuar com o silêncio,
Admirar a noite,
Gozar a liberdade,

Entrever o futuro,
Demolir a insolência,
Deliciar-se no calor do dia,
Ou no fresco da brisa marítima,

Conviver com outros e consigo,
Disseminar o verbo,
Intuir a verdade,

Inseminar a Democracia,
Como um verbo substantivo,

Conhecer a turbulência,
Animar se no conflito,
Mas prevalecer na paz e na
Tranquilidade,

Viver como se reconhece,
Estar de bem com a consciência,
Como condição indispensável
Para uma existência 
Verdadeira.