domingo, 25 de novembro de 2012

Alma (segunda visitação)


A alma é um interlúdio
Do pensamento,
Uma busca interior,
Um chegar e partir,
O desenhar de um intento,
O conceber um sentimento,
O emancipar do espírito!

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Alma (primeira visitação)


No universo onde os pensamentos
Pesam como palavras de granito urdidas,
Num espaço sensorial,
Numa delicada teia de abraços,
Em que dois corpos se unem,
Muito levemente, como se não quisessem acordar,
Há uma alma no infinito do tempo,
Perdida na indulgência do vento,
Entre a paz deste momento
E o perfume da primavera,
Na miríade de sementes brancas que
Esvoaçavam pelas ruas e jardins da cidade,
Recordo o encantamento do ser,
Neste dia de frio inverno,
Em que o tom áureo do sol
Purifica a incerteza da existência!

domingo, 18 de novembro de 2012

Olhares


Olhares que se escapam,
Um do outro,
Ainda que não queiram.
Porque quando se encontram,
Nem que seja num breve e
Furtivo momento,
Libertam um magnetismo irrequieto
Que atrai sentimentos,
Buscam perguntas ásperas e inóspitas,
Na ânsia de encontrar respostas,
Profundas e misteriosas,
Que residem no âmago
Da nossa consciência,
No interior do que somos
E caminhámos,
Um caminho sinuoso, árduo
E misterioso
Mas no seu longínquo horizonte
Vislumbro…
Uma estalagem acolhedora,
Uma bonita estalajadeira,
Uma alcova convidativa,
Um tálamo virtuoso,
Uma aspiração realizada,
Uma liberdade,
Muitas vezes, idealizada!

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Longe


Longe,
Tão longe e distante
Como se do tempo fosse um viajante,
Transportado para uma era de fiapos de bruma
Na sensação de leveza de um sonho de espuma,
Feérico emolumento para a atribulada e doce saudade,
De um gesto de sublime temeridade,
Da delicadeza do sorriso que embala o coração
Saciado de infatigável emoção!

domingo, 11 de novembro de 2012

O dia


Uma manhã pardacenta,
Plena de tristeza,
Encoberta,
Chuvosa e fria,
Transfigura-se numa tarde
Solarenga,
Um pôr-do-sol inebriante,
Uma noite de lua cheia
Vibrante,
Onde o sonho acontece!

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Sentes?


Sentes
O leve e indistinto rumor do rio
A deambular pelo vale?
Sentes
O riso que se revela no rosto triste
E desvela um sentimento oculto?
Sentes
O ténue restolhar das folhas
Que abraçam os passos inseguros,
Os modos hesitantes,
O precário momento de estar vivo?
Sentes
A beleza da chuva traçando uma sinuosa
Linha na palidez do rosto,
A intensidade de uma lareira trespassando
A crueza do frio de Inverno?
Sentes
A força do meu abraço?

terça-feira, 6 de novembro de 2012

De madrugada


De madrugada
Quando o dia submerge a noite,
Quando o silêncio noturno
Desagua no ensurdecedor caos diurno,
No instante em que no horizonte tremeluz
A primeira luz,
Ouve-se as gaivotas como um privilégio,
Há um momento de sortilégio,
Em que o tempo permanece suspenso,
E tudo se volve mais intenso!

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Quero reler esse livro


Quero reler esse livro que por tantos anos
Esquecido ficou nessa estante elegante
Mas distante.
Quero reler esse livro
Como da primeira vez se tratasse,
Como se o completamente o desconhecesse,
Como se fosse um profundo mistério
De um conto de Agata Christie retirado.
Quero reler esse livro
Como se de uma raridade se tratasse,
Arrematada, por uma prodigiosa quantia,
Em leilão efetuado na sala gótica
De um qualquer castelo romântico.
Quero perscrutar esse livro
Como um drama, como uma comédia,
Como prosa em poesia escrita,
Pelo mais simples e puro prazer.
Quero reler esse livro
Uma, e muitas outras vezes,
Ler todas as palavras e letras,
Sonhar com todas as frases,
Acariciar todas as páginas,
Demorar-me em todas as folhas.
Quero reler esse livro,
Transformá-lo num altar de beleza,
Assumir a certeza,
Trespassar as dúvidas,
Beber o seu conhecimento.
Quero reler esse livro
Como se uma metáfora da
Mulher amada fosse!