terça-feira, 16 de outubro de 2018

Alter Ego


Na superfície d’água abriu-se um escuro abismo. E
mergulhou no remoinho da vida. Espaireceu e
fugiu. Fugiu uma vez mais. Ficou calado. E
pensou.
De tanto pensar, uma verdade perpassou, mas não
ficou, abalou.
De tanto andar ficou cansada. Descansou. De
descansar rapidamente se fartou. Saltou, calcorreou.
Desenhou-se no cartaz publicitário. Voou pelo éter
radiofónico.
Apareceu no ecrã de televisão. De tanto aparecer, reapareceu.
Cintilou no monitor do portátil. De tanto ser reconhecida,
envaideceu.
De tanta vaidade pariu. De parir em parir, tornou-se
uma progressão geométrica.
Assustou-se, mas determinada continuou.
De tanto se multiplicar, tornou-se numa praga.
Da praga nasceu um deus.
Que se ergueu na sua pose sáfara e gritou estridulante:
 Aurea Mediocritas!!!
…Estava criado o novo alter ego da
Humanidade.

quarta-feira, 10 de outubro de 2018

Açoteia Cativa


Leve brisa,
Espontânea e decidida,
Esbate-se na Natureza
Serena,

A lua
Alivia a negritude da
Paisagem
Roçando de prateado as
Ondulantes folhas das árvores,
Laranjeiras, abacateiros, alfarrobeiras, figueiras…

O mar, distante,
Na realidade perto,
Reverbera a atmosfera numa
Onomatopeia sussurrada que
Cativa,

O homem,
Sentado na açoteia,
Atravessa a noite,
Imerge no pulsar dos pensamentos,

Flui pelo cosmos,
Cintilante no céu noturno,
Apesar de sobressaltado com a
Condensação que se propaga pelo copo gelado,

Aquece-se no regaço da
Mulher,
Afagam-se,
Diluem-se…