quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

Um distinto e decisivo vocábulo

 

Um distinto e decisivo vocábulo,

Arresta-se no conciliábulo das fadas

Do bosque,

No aproveitar do desígnio deste ano

Redondo,

Jocoso, inclina-se,

Como se amanhã fosse hoje,

Para o despertar do tempo.

Equidistante, está no centro

Da vida.

 

Palavra que é mais do que um verbo,

É um ensinamento que perdura,

Na rua, no quarto de dormir,

No supermercado,

Na mesa do restaurante,

 

De todos ao alcance,

De muitos foge,

De outros esconde-se em

Labirínticos processos,

Por vezes naufraga

Em mares tempestuosos,

Está no ar, no mar,

Com todos eles rima.

 

Tranquilo ou tumultuoso,

Alimenta-se do processo humano,

 

Como as plantas

Carece de ser semeado, tratado,

Acarinhado,

Só pode ser consumido em

Liberdade,

Sempre de durabilidade incerta,

Por vezes aproxima-se cedo,

Outras mais tarde,

O significado é sempre o mesmo,

O mais perto que podemos almejar

Estar da divindade.

 

E eu,

Contigo,

Tenho o nirvana de o

Partilhar!

domingo, 1 de novembro de 2020

Um pêndulo no tempo

 

O sol ergue-se do negrume da noite,

Eclipsa as estrelas no raiar do dia,

O homem sentado nas rochas

Escreve um poema que se

Esconde nos grãos de areia da praia deserta,

 

Um diletante percurso

Abre-se na folha escurecida por caracteres

Gatafunhados numa celeridade conspícua,

 

Atravessa o areal e é

Absorvido pelo matagal que o

Oculta

De ninguém,

 

Mas, ainda assim, o

Encobre de qualquer olhar fortuito,

Ou até, de alguém mais atento.

 

Discorre na sombra das árvores

Escanzeladas,

Estabelece uma comunhão

Com o

Ciciar do vento,

 

Uma litania espraiada

Neste santuário selvagem,

Mistura-se com o estridular do pica-pau,

Lá longe,

Nas profundezas do arvoredo,

 

Há um pêndulo no tempo,

Um passo a compasso,

Evento descrito no

Papel branco virtual,

Aventura sempre renovada,

 

Espírito do desejo,

De desejar um mundo que

Se entrelace

Nas nossas mãos!

sexta-feira, 4 de setembro de 2020

Despertar

 Da extrema-direita à extrema-unção da

Democracia

Vai um passo incerto, curto e

Malévolo,

Um abandono de motivos,

Uma certeza egoísta que se sobrepõem

Aos princípios,

 

Vai uma indiferença generalizada pelo

Facto político,

Ou pela negação das instituições afogadas em

Incriminações,

 

Vai a banalização da acusação de

Corrupção,

 

Vai no crescer da intolerância,

Na divisão entre nós e eles,

Como se nós fossemos

Impolutos

E eles a

Degenerescência,

 

Vai da incompetência dos racistas que

Não perceberam

Que apenas existe uma raça humana,

 

Vai no semear da incompreensão entre religiões

Díspares,

Que se assemelham na

Intolerância!

 

Vai na leviandade de acusar culturas

Desconhecidas,

 

Vai no medo do futuro,

Que é a desculpa para a

Violência,

 

Vai no desconhecer e deturpar a

História

Que justifica as

Atrocidades,

 

Vai no acordar tão tarde

Que nada mais há para sonhar,

 

Vai no desconhecer que a democracia é o

Reconhecimento

Dos direitos das minorias e, não,

Como muitos pretendem,

A ditadura da maioria,

 

Daí a necessidade,

Urgente,

de

Despertar!

 

De apagar todos os vestígios de

Ignorância

Que é o grande mal,

Diabólico,

Deste nosso século!

Uma onda algarvia

Uma onda emerge E submerge a Realidade que se mistura na diluente Preposição da amizade,
Rituais benéficos diluem a Angústia do momento, Sente-se um murmurar que Se distende por incontáveis sentimentos,
Aqui, agora, percebe-se o Misturar de dialetos, Ouvem-se desde um passado distante,
E, porque eclodem, um pouco por este País, Aberrantes movimentos, É preciso ter a noção que a Tolerância é - deveria ser - Um significante de humanidade,
Este meu pensamento Conflui neste Algarve, Onde o mouro conquistado Não representa, necessariamente, a Liberdade alcançada,
Um longo e sinuoso caminho, Mas a certeza que, mil anos Antes, Nesta terra a sul situada, Existia, entre duas nações, realidades e Religiões, diferentes, Uma capacidade de dialogar e Conviver,
E compreender que a diversidade É uma mais-valia!
A imbecilidade, tenho esperança, Tem um limite, Embora, por vezes, um chega, Faz-me duvidar, Mas a histórica lição Sussurra-me Que a inteligência vai Triunfar!
18/08/2020
Quinta da Cativa

terça-feira, 7 de julho de 2020

Navegar


Uma roda que
Roda
Em redor de um pensamento,
Para lá do confinamento,
No sentimento
Que une os corpos revoltos,
Espraia-se com contundência
Na seda que fabrica o espaço-tempo
Do universo
Em que te moves,
Te aproximas,
Te encontras,
Encontro-te,
E
Navegamos no mar
Sem mar,
Muito para lá,
Em qualquer lugar!

terça-feira, 14 de abril de 2020

Abril de 2020, tempos de covid-19 (para memória futura)


Um dia a mais
Cá dentro,
Um evento irreal,
Uma conversa, um tal de
Teletrabalho,
Um encontro, desencontro no
Google Meet,

As notícias que irrompem
Cá dentro,
Na televisão,
Na internet,
Nas redes sociais,
Os números que crescem,
A dependência da parábola geométrica
Que todos os dias nos invade ao almoço,

Cá dentro reúne o consenso de
Um tempo tenso,
Mas reina a unidade de uma unidade
Perante a batalha,

No norte da Europa os velhos são mesmo velhos,
Morrem porque a sua morte é útil à sociedade,
Desculpem,
Não consigo subscrever este ponto de vista,
Onde solidariedade é um sentimento inexistente,
Onde a União Europeia é uma guerra de economias,
Apenas serve para criar um mercado para as empresas prosperarem,
Onde os negócios são a essência da
Existência,
Onde os direitos da cidadania foram substituídos
Pelos direitos do consumidor,

Não, não me revejo nesta União Europeia,
E, perdoem-me a soberba, mas penso que os
Nossos pais fundadores também não aprovariam

Que alegria ser do dito sul, para mim é mais oeste, da
Europa,
Mais humanismo, mais alegria de estar vivo,
Mais pertença da Humanidade,
Mais vontade de ser,

E para todos os arautos da desgraça,
Aqui reside um motivo de orgulho,
De caber num país,
Sem qualquer sentimento nacionalista
Que o nacionalismo é coisa perversa,
E, reza a História, nada de bom traz,

Por tudo isto, com muitas tropelias,
Alguns a fugirem à quarentena,
Outros a não respeitarem os preceitos de segurança,
Mas comparado com outras latitudes,
Neste tempo de covid-19,
Cabe-me o prazer
De me sentir português!!!

segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

2020


Um começo que é sempre um recomeço,
Um percurso impulsionado pela
Volta astronómica em volta de uma estrela,
Trezentos e sessenta e seis dias de uma vida humana,
Nem paciência tenho de abarcar a totalidade dos momentos,
Um passo insignificante na rotação galáctica,
Microscópico percurso do Universo,

Em perspetiva,
Este é o significado de dois mil e vinte,

Em todo o caso, e por mais liliputiano ou frívolo que seja,
Que seja excelente,
Que seja no vosso convívio,
Sim,
No convívio de todos vós meus amigos,
Sóis o alimento da alma,
A bússola do meu caminho,

Mas, perdoem-me realçar,
A singular companhia da minha
Companheira,
Que reverte os dias mais espinhosos
Em ocasiões mais afáveis,
Que transforma o Cosmos
Num espaço inteligível,
Alivia o lamento
Num sorriso ternurento,
Transforma a circunstância trivial
Num ínclito
Sentimento!