quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

O passar, devagar, do tempo (uma reflexão a propósito do livre-arbítrio)


Uma parede de tijolos aprisiona os sentidos
Embotados pelo passar, devagar,
Do tempo,

Por vezes,
Omnisciente,
Muitas mais,
Ignorante,

Sempre, pelo menos assim o deveria ser,
Uma interrogação para o futuro,
A procura de desvendar o mistério da vida,
A questão que se coloca incerta,

Mas vai adquirindo determinação,
Inculcando segurança,
Para logo desabar,
Em serena câmara lenta, destruidora,
Espalha-se, rodeia o planeta,
Eleva-se um pó violento que tudo
Obscurece,
Entope a visão, incapaz de perfurar o destino,

Esconde o medo,
Cerra os caminhos,
Veda as veredas com circunvoluções
De um qualquer labirinto psíquico em que
A mente se transmuta num espetáculo de
Cinema mudo,

As mãos impedem a cabeça de resvalar,
Incontroladamente,
Os dedos sublevam os cabelos
De forma errática,

O pensamento deduz-se nos impulsos elétricos
Que percorrem os neurónios
Numa solicitude semântica,
A sinonímia converte-se em
Antonímia,

O cientista explora os sentidos da vida,
Busca um sentido para o caos,
Perpetra uma explicação para o fenómeno
Da criação,
Insere mais uns dados no conhecimento informatizado,

Reaparece num monitor de alta definição,
Equaciona mais um gráfico multicolorido,
Explana mais uma teoria elucidativa,
Quem sabe, talvez até evolutiva,
Entrevê-se a génese do Big Bang,
Um nome cinematográfico para o início do tempo,

Olvidamos o passar dos dias,
Perdemos o ensejo de uma tarde aprazível,
Entretidos, apenas, pela ambição de
Nada fazer,
Simplesmente apreciar o sonho,
Crescer na utopia da felicidade,
E, apesar de tudo,
Perseguir a demanda de estar vivo,

O livre-arbítrio nasce para logo
Esmorecer
Na intensidade quântica do Universo,

Somos a sorte ou o azar,
O encontro ou o desencontro,
A genética que nos concebe,
E fica muito
Pouco para a liberdade de ser!

Existe a dor de partir,
De ficar,
A dor de esquecer ou
Recordar,

Há dor no respirar,
Na felicidade de amar,
No odiar,
Na beleza da paisagem
Na fotografia amarelecida,
No pixel desbotado,

Há dor na doença,
Na alegria,
No logro do livre arbítrio,
Na hora que se segue,
No estupor do momento da revelação,
Na (in)certeza de Heisenberg,
Na convicção destruída,
No delir do provir,
Na afetação do discurso,

E,
Ao contrário de que os
Hedonistas apregoam,
Não há vida sem dor,

Simplesmente
Acontece dor em
Viver,
Como existe felicidade,
Liberdade,
Verdade,
Alegria,

São a duplicidade,
A dicotomia
De residir neste planeta,

Porque a entropia
Domina completamente o
Universo,
Multiverso que seja!

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