quinta-feira, 9 de abril de 2009

Um rosto

Um rosto visível na multidão.
Demarca-se. Cresce numa miríade de afectos.
Destaca-se. Numa cor distinta. Opala iridescente.
Acalma-se. Entre dois sorrisos esbatidos. Desfolha
o malmequer.
Ouve-se um lamento. Quase um murmúrio coado em
papel vegetal. Tímido, ciente de si mesmo.
Desperto para o percurso, que se torna sinuoso.
Acentua-se a inclinação do caminho.
Abre-se uma porta.
Entretece-se uma página de pensamentos.
Desconecta-se a mente. Imediatamente se escolhe o lugar.
Trôpego. Ancião perpétuo.
Escolhe-se um tema.
Um rosto marca uma posição, talvez até um rumo
na multidão vestida de cinzento anónimo.
Perde-se um segundo.
Atira-se a pedra que ressalta.
Ressalta um número limitado de saltos. Mas
mesmo antes de parar, ressalta uma última vez.
Repete-se o gesto para um resultado semelhante.
Alivia-se a consciência. E crescemos neste mundo
de primeira. Esquecemos todos os estão para lá destes
muros que nos protegem e nos escondem.
Não vemos nem sentimos.
Apenas aquele rosto se destaca na multidão.
Acena-se com as bandeiras.
Impregna-se de caridades.
Aglutina-se o pudor, como de publicidade se tratasse.
Escrutina-se o que somos.
E fica o rosto que é sempre acusador.

1 comentário:

Jotas disse...

somos cada vez mais um rosto anónimo no meio da multidão, cada vez menos comunidade, cada vez mais sós.