segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Sentes?

Sentes a chuva a latejar na rua
Como ondas violentas que emanam do centro do corpo
E se disseminam pelos corpos?
Sentes o cansaço que se desprende das pernas
E atravessa todo o ser
Como uma vaga que submerge a imensidão
Do cosmos?
Sentes a ironia das palavras proferidas
Num momento de evasão da razão?
Sentes a tristeza tomar forma,
Invadir toda a percepção,
Afectar o modo como se entende o mundo?
Sentes a rudeza do gesto,
A fuga dissimulada,
A hipocrisia afectada,
A atitude grosseira?
Sentes o planeta a mover-se
Entre o dia e a noite,
O Inverno e o Verão?
Sentes a aragem no cabelo numa noite de Outono,
Inflamando de vida a essência das coisas?
Sentes o percurso em ziguezague da rua
Que se prolonga por distâncias insondadas e
Tempos incógnitos?
Sentes o tremor da mão
Ao acariciar a face amada?
Sentes o Sol da Primavera na pele
Aquecendo a existência com
O calor das estrelas?
Sentes o presente que se afasta
Para o futuro,
Envolve-nos num nevoeiro de mistérios
Intensos e impenetráveis?
Sentes o sonho quando se transforma
Em pesadelo?
Sentes as promessas, ainda que não escritas,
Quando se tornam ocas e vãs?
Sentes o medo, o ódio, a alegria, a liberdade, o amor?
És capaz de sentir?

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