sexta-feira, 28 de março de 2008

Escrever (uma poesia quântica)

Escrever como partir
Desenlaçar o que trespassa o cérebro
E nos conduz para o desconhecido
Para estes portais abertos entre pinheiros
Encostados entre pedras e folhas caídas
A estrada
Lá longe na vida O asfalto
Enegrecendo os caminhos
Aqui entre os risos dos pássaros

Sentir a dicotomia do estar e do ir
Rever a alegria de escrever Abrir
Clareiras entre os muros dos nossos cercos
Ultrapassar o nosso próprio Adamastor
Viajar sentado
Apenas na imaginação

Os jograis
Cantando medievais melodias inglesas
Para lá desta esplanada
Neste lugar onde
As rochas saltam
Acompanhando o rodízio das pessoas
Sem ponto de referência

Escutar as espiras do disco girando
Lentamente
O relógio movendo-se para o futuro
A decisão que queremos tomar
E os pensamentos entrechocados
Delirar sem febre
E ainda tudo
O resto
Que não se vê ou ouve mas que se
Sente
Em todas as partes do corpo
O desejo de estar
Perto
De descobrir um refúgio secreto
Em qualquer montanha perdida dos Himalaias
Na quietude de um mosteiro
Perdido na poeira da História onde
Se sinta o cheiro do amanhecer
Ainda liberto da civilização

Que fazer quando a tristeza nos abandona
E o espelho dá-nos uma imagem baça
Onde dificilmente nos reconhecemos
Encontrámos rugas
Cavadas por pensamentos vagabundos

Qualquer coisa no ar impalpável
Que se afasta e a próxima
A brincar
Como se brincar não fosse uma parte da vida

A tarde vai-se esgotando na noite
Em que um eclipse lunar vai estragar
A monotonia do dia
Porventura os deuses são seres complacentes
Que olham
Esta rocha flutuante
À procura quem sabe de um recomeço
De um novo big-bang
Em que um outro colapso da matéria
Atirará
Os átomos para novos rumos Onde
José não será José Nem
Maria será Maria
Humanidade não se escreverá com agá

Embora distante do mar
Sonho o ruído da maré
Tropeçando num caranguejo
Atarefado na sua interminável busca de alimento
Escuto o estralhaçar de Riders on the Storm
A voz de Morrinson conduzindo-nos para novas dimensões
Onde nada tem importância
Olho o fumo do cigarro esboçando
Desenhos no ar quedo Espirais
Entrecruzando-se lentamente logo
Rodopiando em loucas correrias sem sentido

E tudo isso
Escrevo

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