quarta-feira, 23 de setembro de 2009

É preciso

É preciso girar o mundo nas mãos
Como se fosse uma bola de trapos colorida.
Se os trapos aspirarem a ser vida,
A vida é de trapos que a pintam
De cores coloridas.

É preciso gritar para que a dor crie
Um espaço que se torne
Um sítio de fuga!
Quando a fuga se converte em vida,
Fugir é um acto da vida.

É preciso ler para que os livros
Se gastem de conhecimentos.
O saber espalha as notícias por todos os ventos.
Onde o vento se constitui vida,
A vida sopra em tormentas.

É preciso correr para agitar a vida,
Brincar com a espuma, gerar bolas de sabão.
Se as bolas de sabão forem vida,
A vida será ténue e frágil,
Ainda assim será vida.

É preciso cantar para que
A voz seja audível, transponha barreiras
Alcance o desconhecido.
Se a vida cantar, a voz terá um caminho
A percorrer, alguém a alcançar,
Uma verdade para irradiar.

É preciso iluminar para que a
Luz brilhe na noite e adquira um
Glamour de estrela de Hollywood.
Traduz-se em vida saída de um ecrã,
Como ficção vira um artefacto que se
Transporta como troféu para gáudio das
Multidões idiotizadas.

É preciso que a vida nasça, cresça e morra
Constitua uma narrativa épica, trágico-cómica
Que se vá dilatando com a poeira dos aniversários,
Embrulhe novelos que não desfiam.
Este percurso transforma-se em vida.
A vida replica um percurso entre a vida e a morte,
Um absurdo, acidente ínfimo no plano do Cosmos,
Insignificante vida.

É preciso que a vida conquiste significado
E cative o acto de viver como personificação da vida.
Assuma contrariedades e goze alegrias,
Converte-se num caminho íntimo e
Ao mesmo tempo partilhado.
Então há vida que valerá viver.

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