sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Romance de um dia de Inverno, Firenze

Abro a janela ao sol que penetra
Feérico, desperta miríades de gotículas de pó
Que tremeluzem ao sabor da onda luminosa,
Partículas de uma memória do futuro.

Os reflexos na neve criam a ilusão de profundidade,
Evocam o esbatido dos relevos de Donatello.
Inspiro lentamente o ar que transporta a distante
Harmonia de uma tarantella.
O frio invade o quarto, condensa a respiração,
Produz dois ténues fios de vapor que
Caprichosamente se unem e
Evocam uma forma uníssona.

A sua perfeição transcende Eros,
Naturalmente a emoção
Submerge em lençóis e carícias,
Dissolvem-se os lábios, fundem-se as bocas.
Exploram-se recantos de jardins interditos,
Sobrelevam-se em paraísos reservados que
Nela encantam.
Absorvo todo o seu ser em momentos de
Intenso prazer. Ao longe a cúpula de
Santa Maria del Fiore adjectiva a volúpia,
Adiciona ainda mais verve na vida.

O tempo na sua mestria dilata-se na
Equação energética de um quasar,
Liberta a alma, concebe cumes espantosos
Na sua singularidade! Na reprodução de um
Big Bang celular! Na expansão do universo!
Na paixão partilhada!

Passeamos nas calçadas outrora percorridas
Por Leonardo e tantos outros que se erguem à nossa
Passagem como num tributo ao amor.
Imagino Dante sentado em frente à sua secretária
Sonhando com Beatriz.
Cansado sento-me na Piazza del Duomo e percepciono a
Humanidade no seu melhor.

Escurece suavemente exclamando
Aquilo que permanecerá um dia perfeito.

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